domingo, 28 de dezembro de 2014

Carlos acha o governo corrupto. "O governo é sujo", ele diz. E por que ele é sujo, seu Carlos? 
- Ora, porque ele é corrupto!
Carlos é servidor público federal e não gosta de trabalhar como servidor público federal. Ele gosta é do salário de um servidor público federal.
Nas segundas, ele chega mais tarde em casa para trair sua esposa e estaciona o seu carro numa vaga para deficientes. E chega em casa com perfume da amante.
Quando vai enfrentar alguma fila, dá um "migué" e a fura.
Nos domigos, ele sai com uns amigos para beber, conversar e jogar poker. Carlos volta para casa dirigindo bêbado, ouvindo a rádio, numa estação sobre política e resmunga "nam! tudo corrupto."
Carlos chega cansado -porque teve um dia cheio- às duas da madrugada, gritando porque não tem comida na mesa. Acorda a mulher. Grita mais. Ela, sonolenta, pede para dormir só mais um tiquinho e ele a levanta puxando-a e empurrando-a.
Ele espera a comida ficar pronta enquanto assiste algo na tv, ao som do choro tímido da esposa.
- Ô, meu bem. Já disse que te amo hoje? Você é linda. - Ele diz.
A tv a cabo de Carlos é gato. A energia da casa dele, também.
Carlos reclama aos berros, às três da manhã, que não existe mais pessoa digna nesse país. Diz que não vai votar em ninguém, porque nenhum político presta. Todos roubam. Todos são corruptos. Enquanto Carlos resmunga, Maria, sua esposa, com olhos inchados e assustada, põe a mesa.
- Esse país é uma vergonha! Diz Carlos, tentando sintonizar a TV.
- Esse governo é sujo! Esse governo é corrupto. O que você acha, amor? Tá insatisfeita com o nosso governo também? Fala Carlos, com a boca cheia... de comida e insatisfeito com essa política.

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